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“Se essa rua, se essa rua fosse minha…” um artigo do médico geriatra de São Paulo Milton Crenitte

Quem não se lembra daquela música que ouvíamos quando criança que questionava o que faríamos com a rua se por algum motivo ela fosse nossa? Pois bem, e se não só a rua, mas a cidade também fosse sua, o que você faria?

Digo isso pensando que são tantas coisas que podemos pensar para nossas ruas e cidades- além de ladrilhar – que convido cada pessoa para refletir sobre nosso legado e nas estratégias que podemos pensar para construir uma cidade amiga de todas as idades!

Nesse sentido, lembro da frase do nosso querido médico gerontólogo, um dos maiores especialistas em longevidade, Alexandre Kalache que sempre diz: “Envelhecer é bom, morrer cedo é que não presta!”. Como cada pessoa gostaria de passar os anos, sejam aquelas já idosas hoje, mas também os mais jovens (que se tudo der certo), serão os “velhos” de amanhã.

Infelizmente ainda não vemos sinais claros de que São Paulo, e outras cidades em nosso país, sejam amigas das pessoas idosas.

Faltam medicamentos e insumos em nossas farmácias, há um constante subfinanciamento do SUS, muitas pessoas idosas que não se sentem seguras e acolhidas em nossos ônibus, poucos núcleos de convivência e outros espaços de lazer públicos e gratuitos, carecemos de vagas em instituições de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social. Também são comuns os casos de pessoas idosas de classe média que se sentem pressionadas a aderirem a um plano de saúde, por conta do sucateamento do sistema público de saúde, corroendo sua fonte de renda. 

Promover o envelhecimento ativo e saudável não envolve apenas o fortalecimento da seguridade social acessível e de qualidade, mas o investimento em uma mudança de perspectiva, rompendo com visões perversas que desqualificam direitos humanos e tratam políticas públicas fundamentais como “prêmios de caridade”.

Pelo contrário, uma sociedade justa envolve políticas públicas que incentivam e favorecem a participação social e a representatividade, com equidade de direitos, com foco na promoção, segurança e apoio a todos que mais precisam, a fim de reduzir desigualdades e promover justiça social. Isso está na constituição e deve ser defendido! 

As políticas públicas são importantes de maneira intersetorial, ou seja, não basta que a longevidade e os direitos das pessoas idosas sejam defendidos apenas pela secretaria de direitos humanos, mas também por pastas como educação, saúde, trabalho, meio-ambiente, transportes, cultura, esportes, entre tantas outras.

Assim, convido todas e todos a buscarem saber na profundidade quais são as propostas de seus candidatos às prefeituras e casas legislativas nessa eleição. É uma tarefa justa e fundamental, já que algumas candidaturas podem defender a longevidade apenas na sua superficialidade ou no discurso. Outras, com propostas sérias podem garantir um futuro melhor para todos com ações claras.

A defesa constante do SUS, a busca por ampliação das equipes do PAI (Programa Acompanhante de Idosos) e das URSI (Unidades de Referência à Saúde do Idoso), a batalha para auxiliar a expansão de núcleos de convivência para pessoas idosas, a  fiscalização constante para utilização de verbas destinadas pelo Governo Federal para efetivação de políticas públicas, a  defesa do direito à moradia, com um olhar atento às pessoas idosas em situação de rua, são exemplos de demandas que precisam estar nas propostas dos que querem o nosso voto.

Queremos que não só anos sejam adicionados à vida, mas também VIDA aos anos, para que envelhecer e a celebração do envelhecimento ocorra com qualidade! Por isso, vamos nos lembrar nessa, e em todas as eleições, que essa rua é nossa sim!